Puta merda, puta merda, puta merda.
Praguejo correndo pelo corredor lotado, tropeço no pé de algum aluno e deixo os meus cadernos cair no chão - não tive tempo de passar no meu armário e guardá-los - me abaixo pegando todos com mais pressa.
"Calma, a sala não vai sair do lugar”, diz Benjamin se abaixando do meu lado, “por que a pressa?”
“Tenho que avisar a professora que a Lila tá gripada e…”, paro de falar para esticar o braço e pegar a agenda que ganhei do meu pai antes que ela fosse pisoteada, “olha por onde anda!” digo para os alunos da primeira série” eu já tô sete minutos atrasado” digo me voltando para Benjamin
“Na verdade” ele levanta, “você está a vinte e um minutos atrasado, a professora pediu para mim vim pegar caneta na secretaria, e eu aproveitei para procurar por você” ele passa a metade dos meus cadernos para o outro braço estendendo a mão para mim como um lindo cavalheiro que ele é.
“Meu Deus!” Berro agarrando a mão dele, muito macia por sinal “a última vez que eu olhei o horário foi quando eu deixei a sala de história, pensei que no máximo tinha se passado dois minutos.”
“A sua sala de história é no último andar, estamos no térreo” Benjamin fica ao meu lado.
“Eu vim correndo.”
“Sua pernas são bem curtas.”
Paro no meio do corredor com os olhos estreitos.
“Ei”, ele diz pegando em meu pulso e me puxando em direção a sala de francês, “a professora não vai deixar você entrar se você ficar parado.
Não digo nada pois estou muito nervoso pelo fato do rapaz dos meus sonhos estar me tocando, um toque terrivelmente tosco, mas que me deixa todo arrepiado. O toque quente e confortável do menino de cabelo com cor de areia deixa o meu pulso a poucos passos da sala de francês, e é como se o sol tivesse deixado a praia em um dia de verão e todos estão sentados à beira mar à espera da maior estrela aparecer, mas infelizmente ela nos abandonou.
“Licença”, ele diz entrando na sala, “só tinha caneta verde.”
“Está ótimo” ouço a voz de megera da professora de francês, “de quem são esses cadernos?”
Soltando um suspiro entro na sala com o meu melhor sorriso vendo a cara de maracujá seco da professora Vanessa azedar ainda mais.
“Desculpa a demora, o professor Fernandez me segurou na sala” não é bem uma mentira, mas não vou contar que foi para pegar uma receita da qual conversamos na semana passada.
“Você sempre com as suas desculpas, onde está a sua parceira de crime, o professor Fernandez também segurou a Lila?” Ela diz com as sobrancelhas erguidas.
“Lila está gripada, posso me sentar?”
“Ande logo, já atrasou minha aula.”
Mordo a língua para não revirar os olhos e me sento ao lado da mesa vazia de Lila.
“Bom, continuando” ela pega uma das canetas que Benjamin lhe trouxe e se vira para o quadro, “formem duplas para o trabalho que passei na semana passada” após escrever "formem duplas" em francês ela se vira para a turma, “é bom lembrar que vale nota máxima.”
Dou uma rápida olhada pela sala um pouco acanhado.
“Vou fazer com a Lila”, ergo o braço.
“Faça com alguém presente para não se atrasar”, ela diz sem me olhar “Lila pode fazer com o Marco, que também está ausente.”
“Mas, eu não tenho ninguém para ser minha dupla” sinto um nó se formando em minha garganta.
“Posso fazer com você” procuro pela voz encontrando os olhos castanhos que graças ao sol que entra pela janela eles parecem dourados de Benjamin” se quiser, é claro.”
Dou um sorriso trêmulo.
“Quero, quero sim.”
Benjamin coloca a sua cadeira próxima a minha mesa.
“Pronto” ele diz com um sorriso, “só vou dar os nossos nomes para a professora.”
Após entregar os nomes para aquela megera, Benjamin volta a ficar ao meu lado.
“Ah”, digo me lembrando das luvas do rapaz dourado “esqueci de trazer suas luvas.”
“Tá, o trabalho pode ser na minha casa e você aproveita e já as leva.”
“Combinado!” Sorrio.
Após combinarmos os pequenos detalhes a aula não demorou a acabar, então pego minha mochila e os livros deixando a sala antes que a cretina da professora tenha alguma reclamação a me fazer.
Já estou sem um pingo de ar em meus pulmões quando deixo a escola, tendo que apoiar as mãos sobre o joelho para recuperar o fôlego e só então ir para minha casa.
Benjamin é como uma margarida em um campo de erva-doce, quando ele está no ambiente é impossível não notá-lo, mas quando ele está ao ar livre com o sol se espelhando em seus fios dourados o fazendo parecer um anjo, é impossível notar que tem mais alguém ao redor, que você é alguém ou apenas algo observando a maior estrela do universo brilhar em sua frente.
Benjamin é como um raio de sol me atraindo cada vez mais para si até me cegar.
Atravesso a rua após perceber que estava parado com a boca aberta visando Benjamin conversar com a sua melhor amiga, Camélia, que provavelmente é sua amiga colorida também.
Ele solta uma risada como se ela tivesse dito as coisas mais engraçadas do mundo e algo perfura o meu peito, por que ele nunca riu assim comigo?
Cabisbaixo sigo o meu caminho, arrastando os pés pela calçada.
“Championg!” A voz rouca e profunda de Benjamin aquece meu peito fazendo-me abrir um sorriso, “oi” ele solta uma risada rouca.
“Oi” digo com a minha voz fanha.
“Posso te acompanhar?”
“Me o que?” Digo minha voz subindo uma oitava.
Ele coça a nuca meio acanhado enquanto sorri sem jeito.
“A gente mora na mesma rua, aí eu pensei que podíamos ir juntos.”
“Ah, claro, claro que podemos” minhas mãos se encharcam no meu suor, “tá, só preciso pegar minha bicicleta. “
“Tá bom”, diz ele se posicionando ao meu lado direito e me seguindo até o estacionamento.
Com as mãos no bolso ele espera até que eu destranque o cadeado que mantém a minha bicicleta livre de roubos para seguirmos em direção a nossa rua.
“Vai trabalhar na livraria hoje?” Ben pergunta visando os pombos que estão se esquentando nas calhas da escola.
“Hum”, desvio de uma idosa que anda na no canto da rua, “não.”
“Championg!” Vic grita antes de apertar os meus braços, “estou te chamando a tempos!”
Esbarro no ombro de Benjamin ao me virar para minha amiga, “me chamando?”
“É, não te encontrei no refeitório, porque tive que subir até o último andar para entregar a atividade para o professor de química”, ela diz colocando a sua pasta amarela com margaridas pintadas á mão em sua ecobag que a faz se sentir uma jovem universitária que mora no sul da Califórnia, “aliás, por que a sala dos professores tem que ser no último andar, é tão inútil”, ela pega a carteira para cartões, “Benjamin?”
“Ele é o meu tutor de francês”, me apresso para se explicar, “aquela cafeteria que tem na frente da minha casa é da família dele, Benjamin Flores, é esse o nome dele!”, volto a respirar após terminar de dizer.
“Ben”, o loiro diz ganhado a atenção tanto minha quanto a de Vic, “combinamos de você me chamar de Ben, não é?”
“Ben?”, Vic questiona com sorriso carregado de malícia nos lábios, “eu gostei”, ela direciona o olhar para mim “bom, tenho que ir” ela me abraça com os dedos adentrando em meus cabelos, “vou ajudar a minha mãe com a jardinagem”, ela me solta logo após me dar um beijo na bochecha, “tchau Ben, cuida bem do meu Sora, tá bom?”, ela corre para o ponto de ônibus.
“Eu sei muito bem me cuidar, eu quem vou me cuidar dele!”, grito, depois que percebo o que eu disse levo a mão à boca, com as orelhas pegando fogo me viro para o rapaz dos olhos dourados me visando com um sorriso no canto do lábio.
“Então, é você quem vai cuidar de mim?”, ele ergue uma das sobrancelhas.
“Você pode se cuidar sozinho”, digo saindo às pressas.
“Sora!”, ele me chama, “eu quero saber como você vai cuidar de mim!”, ele corre em minha direção.
Com a minha mochila repleta de cadernos e as luvas de Benjamin em mãos, toquei a campainha da casa dos Flores. Olhando de fora ela não tem nada fora do comum, uma casa de dois andares com uma sacada que mal cabe uma pessoa, um pequeno jardim repleto de margaridas - será que o pequeno Benjamin já plantou alguma? - A fachada branca dá a impressão que o lugar foi feito por anjos.
“Oi”, Benjamin diz com os cabelos úmidos e um sorriso nos seus lábios rosados, “está esperando muito tempo?”
“Quase uma eternidade”, digo com um sorriso nos lábios, “trouxe as suas luvas.”
“Ah, obrigado”, ele as pega abrindo espaço para que eu possa entrar “vem, entra.”
“Championg”, a mãe do loiro deixa a cozinha, “mas que surpresa, tudo bem?” ela me encaixa embaixo de seus braços.
“Estou bem”, digo sendo sufocado, “e com a senhora?”
“Estou ótima, querido”, finalmente livre dos apertos da sra. Flores “veio para tutoria?’
“Mãe, estamos fazendo um trabalho para escola”, Benjamin diz ficando ao meu lado, “para a aula de francês.”
“Adoro o Marco, sério mesmo”, Mirtali diz “mas, confesso que estava com saudades da amizade de vocês dois, que bom que os dois estão usando a tutoria para se aproximar.”
“Mãe, isso é vergonhoso de se dizer”, ele diz constrangido e eu dou uma risada.
“Também estou gostando de voltar a ser amigo do Benjamin”, digo sem saber se de fato somos amigos.
O primeiro gira o pescoço e depois o corpo, ficando a minha a frente com os olhos brilhantes como de uma estrela cadente “sério mesmo?” Benjamin diz, os seus lábios se abrem em um sorriso.
“Acho que sim”, abro um sorriso junto ao dele.
Logo Ben sobe para pegar os seus livros e o fichário organizado por cores quentes que ele usa para estudar, a mãe dele também não demora para se despedir e ir para o café da família me deixando sozinho com Sansa em meu colo.
O loiro desce os degraus pulando de dois em dois enquanto carrega o fichário da capa laranja debaixo do braço e uma pilha de livros em seus braço, parado em minha frente ainda ofegante ele abre um sorriso “você está parecendo uma criança sentado em um consultório veterinário com o Sansa em seu colo” ergo uma das sobrancelhas, “é fofo”, ele ainda sorri, então o sigo abrindo um sorriso também.
Benjamin entrelaça os dedos aos meus dando um leve aperto em minha mão fazendo meus olhos fugirem do sorvete de chocolate para encontrarem os dele que estão arregalados em um sorriso acolhedor.
“Te amo”, o loiro diz sem usar a voz, deixando um beijo molhado em minha bochecha.
Caminhamos pela calçada na tarde ensolarada da primavera até pararmos em frente ao semáforo, Ben leva a mão ao bolso traseiro do seu jeans justo - que não o deixa estranho como eu fico quando tento usar um - soltando a minha mão ele corre com as duas mãos pelo jeans de lavagem se virando para mim “acho que eu esqueci a minha carteira na sorveteria” ele diz começando a caminhar pelo caminho em que deixávamos para trás “pode ir indo na frente, eu já te alcanço”, ele diz correndo pela rua reta.
Uma senhora não muito longe de mim sorri sem mostrar os dentes, “vocês homens, sempre esquecendo tudo” ela diz com um sorriso.
Com o sinal vermelho, atravesso até a metade da rua antes de ouvir o barulho dos pneus freando no último segundo e uma buzina muito próxima sem me dar a chance de desviar do carro que me pega em cheio.
Dou um pulo ao abrir os olhos, foi só mais um pesadelo.
Varrendo a sala em busca de Benjamin, encontro o murmúrio de sua voz na porta que direciona para a cozinha.
“... é para escola”, escuto o loiro dizer.
“É, mas só você está fazendo”, diferente de Benjamin o seu pai não tenta manter a sua voz contida “a bichinha está dormindo”, meus olhos se arregalam.
“Pai”, a voz de Benjamin sobe uma oitava: “isso é preconceito.”
“Que mané preconceito”, consigo ouvir o mais velho abrir a geladeira “ele não gosta de pau?”
Benjamin solta um grunhido desconfortável.
“E daqui a pouco você tá virando um viadinho também”, o mais velho abre algo enlatado “já tá cheio de frescuras” ele deixa o cômodo se deparando comigo acordado.
“Boa tarde Sr. Flores”, não sei onde consegui arrumar voz para cumprimenta-lo.
“Tudo numa boa rapaz?”, ele não espera pela minha resposta e sobe para o andar de cima com uma cerveja em mãos.
Nesse meio tempo o menino de cabelos dourados volta a sentar ao meu lado encostando o seu joelho ao meu, “você ouviu tudo?” ele me pergunta com as bochechas coradas.
“Ouvi o que?” minto com um sorriso quadrado “e, desculpa por ter dormido.”
Com um sorriso ele diz: “não precisa se desculpar, só está faltando a conclusão.”
“Ótimo”, digo guardando os meus cadernos e livros na mochila, “compartilha a pasta no drive que eu a faço em casa.”
“Você já vai?” ele diz “não tínhamos combinado de jogar vídeo-game depois que terminássemos o trabalho?”
“Eu me esqueci que hoje eu tenho que dar banho na Teodora”, invento uma desculpa me levantando e jogando a mochila sob os ombros, “tchau.”
Deixo a casa que antes parecia ter sido construída por anjos, mas agora me parece ter sido feita por nefilins às pressas correndo para o meu lar.
jogo a mochila em minha cama e me sento por cima da minha perna na frente da escrivaninha abrindo a gaiola e pegando Teodora da sua roda de exercício “não podemos ser amigos do Benjamin.”
Estou distraído que nem percebo quando eu perdi, apenas ouço a musiquinha irritante do jogo, com a visão focada vejo a palavras “game over” em negrito na tela grande da tv da sala, solto o controle frustrado, agora com as mãos livres bagunço o meu cabelo pegando o celular.
Abro o perfil de Sora, que apenas visualizou a mensagem, nem se quer reagiu ao arquivo do drive com uma joinha. Tomado pelo desespero me pego digitando “tá tudo bem? Te fiz algo de errado?”, mas por um ato de consciência apago a mensagem sentindo um incômodo em meu peito. Após fechar o chat de Sora abro o de Camélia e digito rapidamente antes que a minha coragem passe.
Estraguei tudo com o Sora.
Minha melhor amiga não demora a ver a mensagem e respondê-la:
Tudo bem ele te dar um fora, gays ainda são homens e geralmente eles não prestam.
A risada fica presa em minha garganta e a frustração toma o meu ser.
Não, longe disso.
Acho que ele escutou o meu pai.
Eita, ele tava sendo homofobico?
O que você acha?
Vai ter que me dar um tempo para pensar.
Desligar o visor do aparelho o deixando de lado.
O que eu farei?
Ouço a porta ser destrancada e reconheço os passos de minha mão se aproximando.
“Benjamin?”, ela me chama entrando na sala, “cade o Championg, fiz alguns biscoitos de cereja para ele”, ela me mostra o pote repleto dos biscoitos favoritos de Sora.
“Ele se foi”, digo falhando em esconder a tristeza em minha voz.
“Ah”, ela coloca a bolsa de crochê sobre a mesa, “você está ocupado?”
“Não”, nego com a cabeça.
“Você poderia levar para ele?”, ela diz prendendo os cachos loiros, “se deixar aqui em casa vão estragar, já que você e nem seu pai comem.”
Me levanto em um pulo pegando o pote das mãos de minha mãe e as chaves do gancho próximo a porta, “pode deixar comigo”, digo antes de deixar a casa.
A livraria dos Liang's ainda está aberta, mas não é o asiatico que domina os meus pensamentos que está atrás do balcão.
“Olá, senhora Kaori”, digo ainda ofegante.
“Olá querido”, ela diz fechando o livro em que estava lendo, “como vai?”
“Estou ótimo, minha mãe pediu para trazer esses biscoitos para o Sora, ele está?”
“Está sim, fique a vontade para subir.
Com um sorriso volto a correr até chegar ao segundo andar, a porta está aberta, mas, o ar gélido do início da noite não entra na pequena casa, a sala e a cozinha estão vazias, sem ninguém, a porta do quarto do baixinho está entreaberta. Após bater três vezes e ninguém dizer nada, eu me arrisco a entrar.
Championg está entre a cama que está cheia de roupas e a escrivaninha, de fone enquanto dança, de costa para a porta, “Sora”, o chamo, mas não recebo nenhuma resposta, então me arrisco em aproximar. Os passos são desajeitados, no entanto fofos, chega a ser engraçado.
Toco em seu ombro, o assustando. O asiatico pega uma das camisetas jogadas na cama e a joga em meu rosto, em uma tentativa de se afastar ele escorrega em uma bermuda e tenta se segurar em mim para não cair, mas acaba me levando ao chão junto a si.
“Ah!”, ele berra.
“Sou eu, sou eu”, digo tirando a camiseta que tem o cheiro do asiatico do meu rosto.
Sinto o meu coração acelerar em conjunto a respiração de Sora, que está com as mãos esquentando minha cintura e o gelado que sai do seu nariz em meu pescoço, faz todo o meu corpo se arrepiar.
“Benjamin?”, ele questiona sem tirar as mãos da minha cintura.
Toda essa situação, Championg com uma das pernas entre as minhas, sua respiração desregulada junto a minha, suas mãos me tocando, faz com que a minha virilha formiga e a minhas bochechas queimam, dou um pulo ficando de pé e usando a camiseta para esconder a minha ereção.
“O que você tá fazendo aqui?”, ele diz usando a cama como apoio para ficar de pé, “quer me matar do coração?”
“Desculpa”, digo, pegando o pote do chão, “minha mãe pediu para trazer”, estendo em sua direção.
“Ela também pediu para você invadir a minha casa?”
“Ah não, sua mãe me deixou subir.”
“Ah”, ele diz claramente envergonhado, “obrigado por isso”, ele pega o pote tirando a tampa “faz tanto tempo que eu não como biscoitos de cereja, obrigado”, ele diz enfiando um em sua boca.
“Sora”, a voz de Kaori soa da sala logo após o som da porta, “já estou de volta”.
O asiatico sorri antes de passar por mim ao deixar o quarto, “tô quase terminando de organizar o meu quarto”, o sigo para fora do quarto.
“Ótimo, dê uma pausa para jantar”, a senhora diz da cozinha, “Benjamin fique para o jantar, não aceito um não como resposta”, ela diz sem deixar o cômodo.
“Seria uma honra…”, Sora me interrompe com uma cotovelada, “não escutou?” ele questiona, “ela não vai aceitar um não como resposta”.
Logo estamos os três reunidos em volta da pequenina mesa de jantar - preciso ficar com as pernas de lado para me sentar - da família Liang.
“Ah, meu querido”, Kaori diz me servindo o jantar “não se esqueça de se desculpar com os seus pais por mim, mas não poderei ir a bodas de casamento deles”.
Algo sobe do meu estômago para o meu peito, algo ácido e desesperado, “Championg não vai a bodas dos meus pais?” me pego falando antes de sequer pensar.
“Oh, não”, Kaori diz surpresa,”vamos para casa da minha mãe por umas questões familiares”.
“Mas ele não pode ficar e me fazer companhia?”, novamente digo sem pensar.
O que diabos está passando por minha mente?
“Não quero deixá-lo sozinho em casa”.
“Mas, ele pode ficar na minha casa, meu quarto é espaçoso e ainda tem o quarto da Bea”.
“Ela não vai vir para as bodas?”, Sora diz.
“Sim, mas meu quarto é espaçoso”.
“Não quero incomodar seus pais”.
“Isso não vai incomodar, minha mãe adora o Sora e eu também”.
“Bom, vou vê se a sua mãe está de acordo”, a mãe do asiatico me entrega o prato.
Sora me acompanha em silêncio pela rua, “você não quer ir nas bodas dos meus pais?” tomo coragem para lhe perguntar quando estamos descendo a ladeira do caminho da minha casa. Sora que estava perdido em seus pensamentos e se assusta com a minha pergunta “o que?” ele diz por um instante, “é óbvio que eu quero”, ele diz por fim.
“Então, fique na minha casa até a sua mãe voltar. O meu quarto tem espaço”, tento passar uma casualidade que não existe, “por favor”.
“Eu realmente quero lhe fazer companhia” ele para e me encara, “mas não posso me convidar para dormir na sua casa, não é certo”.
“Tudo bem”, digo convicto, “eu resolvo isso, vamos”, seguro o seu pulso e o puxo pelo restante da ladeira, o guio pela sala onde meu pai está dormindo enquanto passa algum jogo de futebol na TV e paro diante a minha mãe que está lavando a louça do jantar, “Ben, por que demorou?”, ela disse ainda de costa, “perdeu o jantar.”
“Mamá, Championg pode dormir aqui depois das bodas?”
Ela então se vira secando as mãos no pano de prato, o seu sorriso se abre ao ver o asiático ao meu lado, “mas é claro que sim!”, ela diz com os olhos fixos na minha mão em volta o pulso de Sora. Meu coração acelera, mas não solto o baixinho.
“Resolvido!”, digo e Sora sorri sem graça, com as orelhas vermelhas em vergonha.
“Se não for incomodar vocês”, Sora diz com a voz baixa.
“Incomodar?” Mamãe diz apoiando a mão no ombro de Sora, “é uma honra ter você em nossa casa, você jamais incomodaria.”
Ele sorri sem jeito e diz: “obrigado.”